Ontem, eu programava a publicação de um vídeo da cantora Raiza Chemeris (que acabou sugerindo o tema desta coluna) cantando uma obra de um importante cantor missioneiro: o Cenair Maicá. Ela havia lido o livro Terra e Cidadania na Obra de Cenair Maicá, escrito por Valdir Portalete, e decidido gravar a versão dela da música Canto dos Livres, conseqüência de uma tarde de prosa e mate que havíamos cumprido ainda nestes últimos meses de 2017. Comentávamos sobre um páragrafo da página 47 do tal livro, o que nos surpreendia, era o fato de que, em 1983, a letra desta música havia sofrido proibição de divulgação pela censura federal por trazer um apelo à paz, à liberdade e igualdade!
Versão original do Cenair Maicá, lançada em 1983 no LP Canto dos Livres
Talvez nem tão radicais quanto àquela época, ainda vemos bem ao nosso lado, discursos de ódio sempre que um artista pensa, escreve, canta, atua, interpreta...
Observo também que, infelizmente, ainda temos preguiça de refletir sobre algo que chega como novidade pra nós e lá estamos atirando pedra em mais um assunto que nem mesmo nos esforçamos pra entender qual o motivo, a causa e o objetivo das pessoas fazerem como fizeram e porque o fizeram de tal forma. Me refiro principalmente ao trabalho artístico, mas se aplica a outras profissões também. E essas percepções que aqui divago não são superficiais, condições de mercado, visões técnicas, nem de realidades distintas.
Isso tem a ver com a nossa condição individual impulsiva de julgar gratuitamente tudo que é diferente do que as nossas heranças culturais impuseram. É nossa parte bicho; instinto, diriam os mais letrados...haha!!
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"Não sei o que tu planeja escrever na coluna, mas tanto no "canto dos livres", quanto no "clipe com a bunda da Anitta", a gente só quer poder fazer o que quiser.
Com a bunda, a cara, a identidade. Ser mulher, índio, negro, cantor...
A repressão tem que ficar fora de moda.
A censura não cabe mais!"
me reforça via whats a cantora Raiza Chemeris, quando eu disse que falaria sobre a censura da obra do Cenair neste espaço.
Observo e leio que há anos artistas, estudiosos, professores, monges, empregados, ricos e pobres e até o Papa (que é pop) lutam para esse dia chegar, cada um ao seu jeito e principalmente dentro de sí.
Enquanto isso, a gente continua vivendo a utopia de sentir-se livre, refugiando-se em atividades artísticas, seja sendo o importante ARTISTA ou o fundamental ESPECTADOR, criando junto, concordando e discordando, mas em primeiro lugar colocando os braços a servir e a cabeça a pensar em prol de um movimento que transcende qualquer condição capital ou visão política, porque ele não compete com os outros, apenas precisa ser reconhecido pela sua importância principalmente na área da educação, o nome dele é: setor artístico.
Que em 2018 pensemos ainda mais sobre cada atitude que temos no universo que a gente faz parte e não como se respirássemos em Nova Iorque e vivêssemos o mundo de Marte. Um salve a família Maicá e a toda meninada que já faz arte, a descobrir sua própria cruz...
Aqui no meu bairro nasceram muitos meninos, todos para o nosso bem e pelo menos nessa noite rezo, desejando que todos jantem também!